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Chatô, o Rei do Brasil

by - quinta-feira, abril 05, 2018

50 anos de morte de Assis Chateaubriand


     Na história da imprensa brasileira destaca-se um grande personagem: Assis (Chatô) Chateaubriand, figura de grande influência na sociedade brasileira nas décadas de 1920 à 1960; reconhecido principalmente pela sua atuação nos Diários Associados e por ter se tornado o dono de um grande império jornalístico. A contribuição de Chateaubriand para a imprensa está relacionada tanto à inovação tecnológica, como à própria maneira de se fazer o jornalismo.


     Embora ele tenha em seu caráter controverso muito o que se deve reprovar, e fosse considerado por muitos um megalomaníaco, sedento por poder, é inegável o fato de que Chatô foi um gênio. Um visionário que elevou a imprensa brasileira a níveis de qualidade que não a permitia ficar para trás em relação a qualquer país de primeiro mundo. Não é à toa que o Brasil foi o pioneiro na implantação de uma emissora de TV na América Latina com o surgimento da TV Tupi.

     Fernando Morais, em seu livro Chatô, o Rei do Brasil conta que “Além de gago ele era feio, raquítico e opilado”. Até os dez anos de idade, um analfabeto. Porém aos quinze anos de idade já falava um pouco de francês e um pouco de alemão. Nessa idade, seu interesse pelo jornalismo já era evidente, tanto que foi aos quinze que iniciou sua carreira jornalística. E a partir de então teve participação em vários jornais da época, até finalmente obter o seu próprio, em 02 de outubro de 1924, iniciando o grupo Diários Associados, com a compra de O Jornal.

     Na adaptação da obra de Fernando Morais para o cinema, com o lançamento do filme de mesmo nome: Chatô, o Rei do Brasil; a história se condensa de uma maneira a retratar as relações de Chateaubriand com às questões políticas de sua época, como também ao seu próprio caráter visionário, mostrando a revolução que trouxe à imprensa ao utilizar os veículos de informação para promover a integração nacional. O filme retrata também, talvez até de maneira caricata (há quem que assim o julgue) a personalidade de Chatô e Getúlio Vargas, com a representação de suas relações controversas.

     Há uma cena no filme que demonstra o quanto Chatô poderia ser chantagista e manipulador, quando ameaça espalhar suas próprias tripas no chão do gabinete do presidente, se este não criasse uma lei que o permitiria tomar de volta a guarda de sua filha Nonoca (nome fictício para Teresoca, sua filha na vida real). E a criação desta lei é um fato, Getúlio Vargas lançou o Decreto-Lei nº 5.213, de 21 de janeiro de 1943, que declara o seguinte: “o filho natural, enquanto menor, ficará sob o poder do progenitor que o reconheceu e, se ambos o reconheceram, sob o do pai, salvo se o juiz entender doutro modo, no interesse do menor” – modificando o artigo 16 do Decreto-Lei nº 3.200/41, que só permitia a guarda àquele que primeiro reconhecesse o filho. Esta era também uma verdadeira declaração de toda a influência e poder que Chateaubriand exercia pelo país.

     Em entrevista para a Carta Capital, Fernando Morais conta que Adhemar de Barros foi ao escritório de Chatô tentar convencê-lo de se tornar presidente do Brasil, e ele lhe responde o seguinte: “Não tem a menor graça, o bom não é ser presidente, o bom é que, para o cara ser presidente, ele tem de bater naquela porta, pedir para entrar, tirar o chapéu, sentar aqui e perguntar se pode ser candidato à Presidência”.

     Outra cena que revela a personalidade de Chatô é quando Rosemberg questiona o porquê de Chateaubriand não publicar seus artigos, e este lhe informa que os artigos do colega não refletem a opinião dos Diários Associados. Rosemberg responde que aquela é a sua opinião, ao qual Chatô contrapõe dizendo que ele “compre seu jornal, porque aqui quem tem opinião sou eu”. O curioso é que ele acaba por ser o retrato da própria mídia hegemônica da atualidade, que não se mostra nada diferente dos jornais antigamente ao divulgar somento aquilo que é de seu interesse. Inclusive, o próprio Chatô, em uma de suas famosas citações do filme, fala que “anúncio é dinheiro, notícia é perfurmaria”, revelando que há também interesses econômicos por trás da produção de notícias.

     Assis Chateaubriand, apesar de toda a sua personalidade excêntrica, foi um grande homem. Ele administrava 34 jornais, 36 emissoras de rádio e 18 canais de televisão. Na década de 1930 possibilitou o avanço tecnológico da indústria jornalística ao promover a difusão do rádio, com os Diários Associados; inaugurou um serviço fotográfico que o garantiu imagens de acontecimentos de outros países; e também investiu em reportagens internacionais e produção de edições diárias. Na década de 1940 se envolve em campanhas de responsabilidade social que tornam a rede de comunicação um instrumento a serviço da sociedade; O Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand é fundado em 1947, e possui a mais importante coleção de arte europeia da América Latina. Já na década de 1950, vem a implantação da primeira emissora brasileira, a TV Tupi. Em 1960, os Diários Associados tornam-se também pioneiros no uso de videotape, e as impressoras off-set tornam-se novidade. E por fim, em 04 de abril de 1968, morre Assis Chateaubriand, deixando para a história do Brasil e da imprensa brasileira este legado. Saindo da vida, para tornar-se o Rei do Brasil.

Fonte: Linha do Tempo do Diários Associados






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