A cidade libertária em Game of Thrones - Viratempo

A cidade libertária em Game of Thrones

by - domingo, abril 14, 2019




Hoje estreia a última temporada de Game Of Thrones, série que acompanho desde 2012 e me tornei muito fã. Comprei os livros que inspiraram a série e li todos. Sempre falo que o George R. R. Martin criou não somente uma história, mas todo o universo que a rodeia, com muita riqueza de detalhes sociais; Entre eles aspectos e acontecimentos políticos semelhantes aos que já vivemos na história do nosso mundo.

Então gostaria de mostrar aqui porque a Cidade Livre de Braavos é o que poderíamos chamar de cidade mais libertária do mundo conhecido.

Os primeiros cidadãos de Braavos, aqueles que a construíram, eram ex-escravos que haviam se levantado em uma rebelião sangrenta e tomado o controle do navio em que eram transportados. Navegaram o mais longe que conseguiram para fugir, chegando em um lugar bastante escondido, um conjunto de ilhas que veio a se tornar, após anos de desenvolvimento às escondidas, a Cidade Livre Braavos.

Braavos nasceu do ímpeto de ser livre.

Ali, os ex-escravos começaram uma nova vida. Braavos era rica em frutos do mar, tão rica, que os bravosi começaram a comercializar esses frutos do mar, e outros produtos que eram abundantes, com cidades vizinhas. Braavos ficou conhecida como "A Filha Bastarda de Valíria por não ter uma boa relação com sua “cidade mãe”. Isso porque diferente das outras cidades livres, que são escravagistas, ela repudia a escravidão, tendo como primeira lei “em Braavos não existe escravidão”. Também foi por esse motivo que entrou diversas vezes em conflito com a cidade de Pentos.

Importante destacar que na série há uma característica que foi corrompida. Nela o Banco de Braavos não possui moral alguma. É retratado como uma instituição gananciosa, baixa, que só pensa no lucro e é conivente com a escravidão.

O povo bravosii é mestiço, pois é formado por escravos e refugiados de toda a parte do mundo. O respeito ao indivíduo é a lei mais sagrada em Bravos, permitindo que qualquer religião seja aceita e praticada lá. Pela cidade existem vários templos de religiões variadas. A cidade se desenvolveu através do comércio e viveu por muito tempo às escondidas. O medo da ira dos senhores de escravos ainda afligia aquele povo, então quando viajavam para comercializar, os bravosii nunca revelavam seu porto de origem. Sempre mentiam ou omitiam quando eram abordados por guardas das cidades portuárias exigindo suas cartas de navegação, e eles apresentavam cartas falsificadas. Tudo isso para proteger sua casa, sua propriedade e sua liberdade.

Os comerciantes de Braavos enriqueceram através dos próprios esforços. Através do comércio ganharam tanto ouro que foi necessário a construção de um gigantesco cofre para protegê-lo, e foi aí que perceberam que poderiam usar suas riquezas para financiar ideias e empreendimentos de terceiros através de empréstimos ajudando a construir uma Braavos melhor e ainda lucrar com isso. Assim nasceu o Banco de Ferro de Braavos.

O Banco de Ferro empresta ouro, mas sempre visando o retorno. Caso o devedor não pague, o Banco de Ferro obterá seu ouro de volta por bem ou por mal, afinal “O Banco de Ferro receberá o que lhe é devido”, esse é o seu lema. O Banco de Ferro empresta ouro a muitos reinos, mas não aceita calote. Não aceita descumprimento do contrato, não aceita o roubo de sua propriedade, e quem ousa não cumprir com suas obrigações pode acabar pagando da pior maneira possível. O Banco de Ferro pode financiar os seus inimigos, enviar exércitos mercenários, e dizem que até mesmo assassinos de aluguel.

Braavos teve um início humilde e se tornou a cidade mais rica entre as cidades livres, e provavelmente a mais poderosa. O governo de Braavos pertence ao Senhor do Mar, que é escolhido pelos Magísteres e Chaveiros (descendentes das primeiras famílias a conseguir poder através do comércio em Braavos. Se chamam chaveiros pois são aqueles que possuíam a chave do grande cofre que guardava seu ouro). Uma cidade alicerçada no comércio que conseguiu otimizar a produção de Gales de guerra, Braavos criou algo semelhante ao fordismo, produção em massa das peças que compõem o navio, cada uma feita separadamente. Assim bravos consegue construir uma Gale de guerra por dia, e elas são as mais poderosas do mundo.

Por mais de um século viveu às escondidas, e assim prosperou e se tornou forte, possuindo a frota de navios mais poderosa do mundo conhecido. Foi aí que o Senhor do Mar Uthero Zalyne enviou cartas para todos os cantos do mundo para proclamar a existência e localização de Braavos assim como convidar a todos para celebrar o 111° ano de sua fundação. O respeito a propriedade é tão importante para Braavos que após se revelar ao mundo ofereceram compensação financeira a Valíria, pelos prejuízos causados em sua rebelião (navios e produtos que foram levados) mas deixando claro que não pagariam sequer uma moeda de ouro pelos escravos, pois não toleram escravidão e não acreditam que pessoas podem ser propriedade de ninguém além de si mesmas.

A história da Cidade Livre de Braavos caminha lado a lado com a ética libertária. Repúdio à escravidão de indivíduos, respeito às liberdades sociais e econômicas, incentivo a livre iniciativa, defesa da propriedade privada, geração de riquezas sem agressão a terceiros são conceitos sempre defendidos por libertários e que guiaram os bravosi a torná-la uma das mais prósperas cidades do mundo conhecido. Não foram retratados de maneira fiel na série, mas nos livros são um núcleo interessante que mostra o variado universo criado por George R. R. Martin.

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